VOCÊ SABIA?
AS ORIGENS: INCÊNDIO, MORTES E REVOLTA:
Não se sabe
exatamente quando foi ou mesmo se o fato realmente ocorreu. Mas é comum que se
relacione o Dia Internacional da Mulher a um incêndio criminoso que teria
ocorrido na fábrica de tecidos Cotton, em Nova York, nos Estados Unidos, no ano de 1857, e
que teria matado mais de 120 trabalhadoras. O incidente teria desencadeado uma
série de movimentos de luta pelos direitos femininos.
Segundo a
historiadora Mary Del Priore, o crime, ocorrido durante um momento de eclosão
de diversas passeatas de mulheres nos Estados Unidos, nunca foi comprovado.
LUTA POR DIREITOS IGUAIS:
A partir do
século XIX, com o maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho,
especialmente nas fábricas surgidas durante a Revolução Industrial, surgem
diversos movimentos em prol de melhores condições e direitos iguais para elas.
Iniciadas na Europa, essas manifestações passam a ganhar maior força durante o
início do século seguinte, alastrando-se para outros países, como EUA e Brasil.
É dentro desse contexto que surge a iniciativa de se criar o Dia Internacional
da Mulher.
“Essa
comemoração está articulada com o movimento de união dos operários que
atravessa o século XIX, junto com a situação das mulheres, que eram
extremamente exploradas, e que começam a participar mais ativamente da vida
pública e, em especial, do mundo do trabalho” explica a historiadora Mary Del
Priore, que também ressalta a importância da mobilização das mulheres operárias
de São Petersburgo na Revolução Russa de 1917. Além disso, nesse período, houve
o surgimento de congressos socialistas e comunistas, que encontraram em
militantes como a sindicalista alemã Clara Zetkin, na foto, porta-vozes contra
a exploração de que as mulheres eram vítimas.
DIREITO AO VOTO:
Além das lutas
por melhores condições de trabalho, o Dia Internacional da Mulher se insere em
outras reivindicações femininas, como o direito ao voto, que chegou em
diferentes momentos aos quatro cantos do mundo. Após o direito ser conquistado
primeiramente pelas mulheres na Nova Zelândia, em 1893, o movimento, conhecido
como sufragistas, buscou que essa conquista fosse ampliada, o que foi
gradualmente ocorrendo ao longo do século XX.
“Esse
movimento se junta à luta pelo voto feminino, que vai dando musculatura a essa
celebração. Entretanto, o importante é menos a data e mais o que está por trás:
a mobilização das mulheres” destaca a historiadora Mary Del Priore. Na imagem
mulheres protestam pelo direito ao voto.
DEFINIÇÃO DO DIA 8 DE
MARÇO:
Qual o motivo específico para o
Dia Internacional de a Mulher ser comemorado no dia 8 de março? Além da
simbologia do dia, celebrando as conquistas e as lutas femininas por direitos
iguais, não há uma razão específica para ele ser comemorado nessa data,
instituída em 1975 pela ONU.
“Tem a ver com a data estabelecida pela ONU, para celebrar a enorme luta das mulheres, que passa a ser reconhecida”, frisa a historiadora Mary Del Priore.
“Tem a ver com a data estabelecida pela ONU, para celebrar a enorme luta das mulheres, que passa a ser reconhecida”, frisa a historiadora Mary Del Priore.
SEM RESISTÊNCIAS:
Durante as
primeiras décadas do século XX, quando se discutia a idéia da criação de um dia
da mulher, houve resistência de alguns setores da sociedade, que consideravam
tal ideia descabida? Pelo contrário. Devido a sua importância histórica, dentro
do contexto de luta por melhores condições para as mulheres, a instituição do
Dia Internacional da Mulher foi rapidamente aceita pela sociedade.
“Não houve
resistência nenhuma à data, e esses anos, especialmente as décadas de 1920 e
1930, foram de muitas conquistas para as mulheres. Datas como essa acabam
sacramentando as lutas”, ressalta a historiadora Mary Del Priore.
CONQUISTAS NO BRASIL:
Apesar das
brasileiras conquistarem o direito ao voto apenas em 1932, os movimentos pela
luta de melhores condições para as mulheres no País remonta ainda ao início do
século XIX. Já em 1813, o baiano Domingos Borges de Barro defendia, nas cortes
portuguesas, a participação da mulher na política. Em 1879, elas tiveram o
direito de frequentar instituições de ensino superior. Também merecem destaque
a fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922, a eleição da primeira
prefeita brasileira, Alzira de Souza, em Lages (RN), em 1928, e a criação da
Cruzada Feminista Brasileira, em 1931.
“Na segunda
metade do século XIX, tem início esse debate sobre a proclamação da república,
e as mulheres e o jornalismo já se dão as mãos para a instauração da república.
A partir daí, é rápido o aparecimento de feministas que irão aumentar a
participação da mulher em diversos setores da sociedade, como a política”,
afirma a historiadora Mary Del Priore. Na imagem, mulheres brasileiras
protestam por direitos em Brasília .
MOVIMENTOS DO PÓS-GUERRA:
É comum que se
diga que o Dia Internacional da Mulher permaneceu esquecido durante vários
anos, apesar de conquistas como a carta da ONU que reconheceu a igualdade de
direitos entre homens e mulheres, em 1945, voltando a ganhar destaque apenas
com os movimentos feministas da década de 1960. Entretanto, o caráter dessas
manifestações não foi o mesmo das mobilizações ocorridas durante as primeiras
décadas do século, já que levantava outras bandeiras, como a liberação sexual.
Além disso, em países como o Brasil, essas mudanças tornaram-se mais
importantes décadas depois.
“Esse
movimento só vai se tornar importante no Brasil a partir dos anos 80, quando
surgem os movimentos pelos direitos das minorias; não é exclusivo das mulheres.
Isso tem muito mais a ver com a libertação sexual da mulher, as próprias letras
de músicas como (I can’t get no) Satisfaction, ou as de artistas como Simone,
Ivan Lins e Chico Buarque, cantavam essa libertação da mulher. Na verdade, a
data é importante apenas para um determinado grupo de pessoas, e também tinha
muito a ver com o consumo, com os modismos da época”, completa a historiadora
Mary Del Priore.
A DATA E AS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO:
Não se sabe
exatamente quando foi ou mesmo se o fato realmente ocorreu. Mas é comum que se
relacione o Dia Internacional da Mulher a um incêndio criminoso que teria
ocorrido na fábrica de tecidos Cotton, em Nova York, nos Estados Unidos, no ano de 1857, e
que teria matado mais de 120 trabalhadoras. O incidente teria desencadeado uma
série de movimentos de luta pelos direitos femininos.
Não existe
essa relação, porque esse fenômeno data dos anos 1980, época da associação de
dois fatores: a democratização da pílula e a migração do campo para a cidade,
com uma entrada muito grande da mulher no mercado de trabalho. Elas também
ingressam nas universidades, e ocorre uma feminização de setores da sociedade,
como o direito e a comunicação. Mas esse processo tem muito mais a ver com o
contexto do País, a data apenas consolida certas transformações. Ela, por si
só, não é responsável por nada', destaca. Na imagem, Sunita Choudhury, primeira
mulher motorista de auto-rickshaw, em Nova Délhi, Índia.
FIM DAS LUTAS COLETIVAS:
Passados cerca
de 100 anos dos protestos e movimentos que pleiteavam melhores condições
sociais para as mulheres, e que geraram uma ânsia pela criação de um dia
comemorativo para elas, o que sobrou desse espírito de luta e mobilização por
direitos iguais?
“Eu acho que é
um dia cuja origem pouca gente conhece, as lutas coletivas que inspiraram o dia
desapareceram. Muitas mulheres lutaram por agendas comunitárias durante os anos
70 e 80, e essas agendas foram muito importantes, mas hoje perdemos esse foco”,
aponta a historiadora Mary Del Priore que, por outro lado, destaca movimentos
importantes, como a luta por agendas coletivas em países africanos e
iniciativas francesas discutindo temas como a sexualização precoce das meninas.
CONQUISTAS E DESAFIOS:
Se o espírito
inicial do contexto em que surgiu a ideia de instituir o Dia Internacional da
Mulher perdeu parte de sua força ao longo dos anos, atualmente, quais são as
principais conquistas femininas e quais os desafios ainda existentes? Podemos
destacar a maior participação da mulher no mercado de trabalho e também em
setores como a política, por exemplo. Entretanto, se em países como a França e
Alemanha existem projetos nacionais que combatem a objetificação do sexo
feminino em anúncios publicitários e costumes fortes no sentido da mulher
sentir-se mais independente, em outras partes do mundo, como no Brasil, o
quadro não é o mesmo. Apesar de conquistas nas áreas política, econômica e
sexual, os desafios ainda estão presentes.
“Uma das
grandes igualdades que a mulher brasileira conseguiu foi eleger prefeitas,
vereadoras, deputadas, mas é interessante ver que as políticas usam esse poder
para roubar também. É incrível ver como essa luta está sendo mal utilizada: o
Brasil não tem um projeto de combate à gravidez na adolescência, várias
questões que poderiam ser discutidas estão ficando em segundo plano. Existem
preconceitos muito introjetados na mulher brasileira, e enquanto nós tivermos
esse nível de falta de consciência, é difícil pensar em projetos maiores”,
comenta a historiadora Mary Del Priore.
(FONTE: www.terra.com.br)
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