Carol
comemorava a seleção para uma viagem da empresa quando escutou do chefe: “Já
que você vai, veja se não volta grávida!”. Sônia esforçava-se além da conta,
levando, até mesmo, trabalho para casa. Apesar disso, ainda ouvia de um
superior que seu trabalho poderia ser facilmente substituído por estagiários.
Existe em comum, nos dois depoimentos, a sensação de derrota e a tristeza de
perceber que o mundo, há muito tempo, deixou de ser cor-de-rosa.
A
sabedoria popular diz que a estabilidade no emprego depende da capacidade do
profissional de engolir sapos. Mas será que é isso mesmo que o mercado procura?
Para o professor de comunicação e marketing e palestrante em criatividade
aplicada ao crescimento pessoal, Eduardo Zugaib, a resposta é “sim”. “Para ser
bem-sucedido naquilo que se pretende, principalmente nesse mundo altamente
conectado em que vivemos, é inevitável, uma vez ou outra, engolir um sapinho. A
diferença entre ter ou não sucesso está na forma de digestão. Enquanto o
primeiro avalia as causas e efeitos e, com humildade e visão, procura
reinventar-se, o segundo fica com o sapo entalado na garganta”, explica o
professor.
“O
sucesso, se pudesse ser colocado em uma fórmula, teria dois conceitos
principais: o primeiro é fazer o melhor sempre, e o segundo é justamente
transformar dificuldades em oportunidades”, garante Luís Sérgio Lico,
professor, filósofo, consultor, escritor, conferencista e especialista em
excelência profissional. Ele acredita que engolir sapos nunca foi aconselhável,
mas destaca que é importante perceber se o desafio é, de fato, um sapo. “O que
é um sapo? É aquilo que você é obrigado a fazer sem querer, contra seus
interesses, é humilhação pública – o chamado mico. É o ridículo, o burlesco,
uma coisa que afeta a autoestima, o ego”, comenta.
O
profissional de comunicação discorda de Lico, pois acredita que engolir sapos é
inevitável. Zugaib sugere o autoconhecimento como forma de “temperar o sapo” e,
assim, reduzir a tensão que ele acarreta. “Ter conhecimento daquilo que nos
altera emocionalmente é um ponto de partida e tanto. Conhecer melhor nosso
potencial emocional, com todas as suas qualidades e defeitos, é um grande passo
para começarmos a usar melhor nossos sentimentos, trabalhando a compaixão, que
é o entendimento da outra parte, mas a nosso favor”, constata.
Portanto,
a grande arma contra a sensação vexatória está dentro de cada um. “Se o
indivíduo encarar o sapo como um desafio e transformar uma negativa em
oportunidade, ele já não será mais algo que diminua a autoestima e poderá se
tornar, até mesmo, uma mola propulsora para o sucesso”, acredita Lico. Os dois
profissionais enfatizam a importância da resiliência para isso. “É óbvio que
esse processo não é algo tão instantâneo assim, do tipo on/off. Ele está
ligado a nossa resiliência – nossa capacidade de retornar ao ponto inicial,
mesmo depois de levar alguma porrada da vida ou de outras pessoas”, revela
Zugaib.
Limites
No
entanto, até para engolir sapos – existe limite. “Há um ponto sem volta quando
o ‘engolir sapos’ deixa de ser um fator cotidiano e passa a ser uma tortura,
uma imposição contínua, correndo o risco, até mesmo, de se transformar em
assédio moral”, alerta Zugaib. Nesse caso, “é preciso promover uma análise
honesta sobre a real necessidade de se manter o trabalho ou a relação e,
percebendo que ela se tornou inviável, tratar logo de criar terrenos mentais,
emocionais e financeiros para sua substituição. Hora de trabalhar em dobro:
para manter o sapo respirando, enquanto ainda precisamos dele, e também a fim
de visualizar novos objetivos e sair em busca deles”.
Lico
defende a demissão em casos extremos, mas sugere que o funcionário avalie antes
o que considera desrespeito. “Se um colaborador está ouvindo poucas e boas do
chefe, é importante que ele pare e pense se está ouvindo isso porque realmente
fez um relatório ou algo errado ou se o líder está apenas dizendo tudo aquilo
sem motivo e afetando a autoimagem desse funcionário. Existe uma diferença
entre o assédio moral e a incompetência pura e simples”, diz.
A
hierarquia é outro fator que compromete a percepção do processo de engolir
sapos. Para Zugaib, vale a máxima do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
O professor explica que, muitas vezes, o profissional pode encarar como um sapo
o que para um líder significa um pedido de ajuda. “Nas equipes de criação em
que trabalhei, por diversas vezes me senti obrigado a engolir sapos. Só quando
passei a dirigir um grupo, com a responsabilidade em relação ao produto final
recaindo apenas sobre meu nome, percebi o quanto cada um daqueles sapos que
engoli anteriormente fizeram diferença”, relembra. Por isso, ele afirma: “O
sapo que você engole hoje pode ter seu valor percebido meses, anos, chefes e
empresas depois”.
Dicas
práticas para o extermínio de sapos
O professor Lico ensina como impedir que desgostos prejudiquem sua produtividade e bem-estar:
O professor Lico ensina como impedir que desgostos prejudiquem sua produtividade e bem-estar:
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Lide com a rejeição e analise seus limites de aceitação – Ao encarar um
sapo, teste seu próprio limite diante da situação. Se conseguir transformá-lo
em desafio, você crescerá, caso contrário, será envenenado.
»
Transforme seu ambiente – Nessa hora, vale lembrar Sartre, que diz: “O
importante não é aquilo que o mundo fez com você, mas aquilo que você fez com o
que o mundo fez com você”.
»
Aja com diplomacia – Lembre-se de que um sapo pode se transformar em uma
oportunidade futura.
»
Esteja sempre pronto a buscar a oportunidade de melhoria.
»
Divida o fardo – Seja tolerante com você mesmo e não tenha vergonha de
conversar com os colegas sobre o ocorrido.
Oportunidades
iguais, e naturezas diferentes
Uma
história que circula na internet traz uma boa reflexão sobre a arte de engolir
sapos. Ela conta que, certa vez, uma pessoa fez três experiências: em uma
panela colocou cenouras e batatas, em outra, ovos e em uma terceira, café e
açúcar. Depois de um certo tempo, ela voltou para observar as panelas e
descobriu que a cenoura e a batata, que eram duras, ficaram moles. O ovo, que
era mole, ficou duro. E o café com açúcar misturou-se à água e ficou
maravilhoso. Os três passaram pelo mesmo processo – água fervente –, mas,
devido à natureza de cada um, a reação foi diferente.
Fazendo
uma analogia com a questão dos sapos, percebe-se que a dura cenoura foi
envenenada pelo sapo, amoleceu e baixou sua autoestima. O ovo, que era
delicado, transformou-se numa coisa dura, amargurada. Apenas o café, no ponto
máximo da agressão, atreveu-se e modificou a água. E você? Que personagem
pretende representar em sua empresa e vida profissional?
Para
saber mais:
Eduardo
Zugaib – www.eduardozugaib.com.br
Luís
Sérgio Lico – www.consultivelabs.com.br
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