Dúvidas dos leitores: uso do ‘mesmo’ e o duelo ‘vir’ X ‘vier’
Leitores desta coluna querem que eu comente
algumas frases publicadas em vários jornais.
1ª) “Solicito ao prezado professor informar se há
erro no emprego da palavra MESMOS no seguinte trecho: “…trabalhos da
CPI, fazendo com que não venham os mesmos a ser declarados nulos
futuramente…”
Para os gramáticos mais rigorosos, existe erro:
não deveríamos usar o pronome MESMO para substituir termos expressos
anteriormente (=trabalhos da CPI). Só poderíamos usar a palavra MESMO
como pronome de reforço: “Eu mesmo fiz este trabalho” (=eu próprio); “Ela mesma
resolveu o caso” (=ela própria); “Eles feriram a si mesmos” (=a si próprios)…
Entretanto, devido ao uso consagrado, muitos
estudiosos da língua portuguesa já aceitam o uso do MESMO como pronome
substantivo (=substituindo um termo anterior).
Eu não considero erro, mas sou contra. Sugiro que
se evite o uso do pronome MESMO em lugar de algum termo já expresso.
Ainda que não seja erro, caracteriza pobreza de estilo. Muitas vezes usamos a
palavra mesmo porque falta vocabulário ou porque não sabemos usar
outros pronomes.
Na frase em questão, o pronome mesmos
poderia simplesmente ser omitido: “…fazendo com que não venham a ser declarados
nulos…”
2ª) E a concordância na frase “…a grande maioria
das empresas de educação superior foram fragorosamente chumbadas…”
está correta?
Erro não é, pois nossas gramáticas preveem a tal
concordância atrativa: o verbo concorda com o adjunto (=empresas) devido à
proximidade.
Não é, entretanto, o nosso padrão. A nossa
orientação é fazer o verbo concordar rigorosamente com o núcleo do sujeito
(=maioria). Para nós, portanto, deveria ser: “…a grande MAIORIA das
empresas de educação superior FOI fragorosamente CHUMBADA…”
3ª) E a frase “Fechar as que têm mal desempenho…”
está correta?
Se não escrevemos BEM, é porque estamos
escrevendo MAL. Se o desempenho das universidades não foi BOM,
devemos “fechar as que têm MAU desempenho”.
4ª) E a frase “Grande empresa também fica na
mão” é boa?
Concordo com o nosso leitor. Não é uma questão de
certo ou errado. Trata-se de uma expressão inadequada ao nosso texto. “Ficar
na mão” é uma expressão excessivamente coloquial e não é apropriada à linguagem
dos bons jornais. Deve ser evitada, principalmente em títulos. Termos e
expressões coloquiais são adequados somente em textos informais.
5ª) Leitor diz ter lido num jornal on-line: “O
irmão do deputado cujo
mandato foi cassado pela Câmara, teve sua prisão
preventiva decretada em novembro e estava foragido há um mês.” A dúvida do
leitor é a seguinte: CUJO refere-se ao irmão ou ao deputado?
Nosso leitor tem razão. Trata-se de uma frase
ambígua. O pronome
relativo CUJO pode fazer referência
tanto ao deputado quanto ao irmão dele. É lógico que o autor da frase usou o CUJO
para referir-se ao ex-deputado, mas quem não acompanha as páginas policiais ou
políticas poderia perfeitamente entender que a Câmara tinha cassado o mandato
do irmão.
É a mania de dar várias informações numa única
frase. E a desculpa de que o leitor já sabe quem foi cassado é absurda. Se o
leitor já sabia, para que repetir a informação?
VIR ou VIER?
1) VIR pode ser:
a) INFINITIVO:
“Eles precisam VIR ao nosso escritório para
assinar o contrato.”
Cuidado: “Ele vai vim” está totalmente
errado. O certo é “ele vai VIR”. Melhor ainda: “ele VIRÁ”.
b) FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo
VER:
“Quando eu VIR o filme, poderei opinar.”
“Se você VIR o projeto, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu ver
o filme…” e “Se você ver o projeto…” está errado.
2) VIER é FUTURO DO SUBJUNTIVO
do verbo VIR:
“Quando eu VIER novamente, assinaremos o
contrato.”
“Se você VIER ao Rio de Janeiro, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu vir
aqui novamente” e “Se você vir ao Rio de Janeiro” está errado.
O DESAFIO
Qual é a forma correta?
1ª) Ver O jogo ou AO jogo?
2ª) Assistir O jogo ou AO jogo?
Segunda a regência clássica, exigida em nossos
concursos, as respostas corretas são:
1ª) Ver O jogo (VER é verbo transitivo
direto);
2ª) Assistir AO jogo (ASSISTIR, no
sentido de “ver”, é transitivo indireto).
(FONTE: http://g1.globo.com/platb/portugues/2012/04/25/duvidas-dos-leitores-82/)
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